Seus sentimentos sempre guardados dentro de uma garrafa meio vazia de vinho, suas confissões dançavam sobre o frio flutuante em suas noites vazias e incompletas de insônia – Mal sabia ela que lá, do outro lado do país, havia alguém que estaria em sonhos fazendo-se dela, vivendo para ela, amando a ela – Passava toda sua noite ali, sentada com aquele moletom listrado, aquelas meias trocadas, aquela expressão indefinida, enganando a todos, menos a ela.
Algumas noites se fazia fraca e pensava na outra que lhe tomava em braços, sentia os batimentos fracos de seu coração e a entonação rouca de sua voz. Apagava rapidamente a imagem da mente com a sua mulher: linda, madura e como ele, o homem que esta tanto ama. Ela não sabia nada sobre si mesma, tão confusa e impiedosa, dividia informações desnecessárias com a melhor amiga – que a amava em silêncio –, contando coisa sobre si mesma, que nunca em sua consciência passaria o fato d’ela já saber e já admirar.
O que levaria ela a não dizer o que sente, a não confessar os medos que corroem seu coração? O que a levaria a quase desistir de tudo todas as noites? Ela tinha medo – menina sabia, mas sem dizer, ouvia -, tinha medo de tudo, d’ela não estar mais loucamente apaixonada, dela não gostar do que esta realmente é, dela não querer mais saber e sem cura, desistir como esta mesma estava a fazer. Mas ela prometera que não aconteceria. Não haveria castigo mais cruel em sua vida, que superasse o drama de saber que há algo, mas não saber o que é ou como ajudar e como proteger. Queria ela protegê-la, ter em mente um apoio de que ela está em segurança. E contando o que lhe afeta, seria fácil para ela, (sobre)viver, com a dor, o cansaço e a confusão de sempre.
– No final, eu sempre vou te amar, e fazendo isso, voltaremos para o início.