Bem-vindo ao meu círculo nostálgico vicioso!

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VENHO AVISÁ-LOS QUE ESTE BLOG FOI DESATIVADO, EU NÃO EXCLUIREI POR PEDIDOS, MAS NÃO HAVERÁ POSTAGENS MAIS AQUI, EU TENHO UM NOVO ENDEREÇO: http://hreveur.blogspot.com/

AS POSTAGENS SERÃO FEITAS LÁ E SÓ UTILIZAREI AQUELE AGORA. OBRIGADA PELA COMPREENSÃO.

A AUTORA.

Eu sem você.

Apoio minha visão em qualquer papel de carta molhado de café que deixo caído sob minha cama, encolho-me no chão, deitada sobre o tapete felpudo, criando fantasias na qual não me surpreenderão. Mas logo ao ver um desses papéis de carta molhados, há um com marcas de vermelho vivo, uma marca de um beijo com aquele batom que tanto usava. Seu nome ocupa minha mente e tento lembrar suas feições e nosso passado. Lembro-me do dia em que nossos olhares se encontraram na chuva que escorria sobre nossos rostos. Volto para aquele lugar em sonhos, mas nunca me lembro de você, nunca o seu rosto encontra o meu e nem lembro mais o que nos fez um dia chamar uma a outra de amor. Você sorriu acreditando que eu sorriria de volta e faria tudo diferente. Mas não. Eu a ignorei e segurei minhas confissões desesperadas, usei como peso para ocupar todo meu pensamento e fui, subi devagar a escada e entrei naquela biblioteca sem ao menos olhar para os lados. Você fantasiou milhões de momentos naquele dia e usou-me como um escudo para todos eles. E eu apareci, acabando com suas melhores fantasias e mostrando como as minhas venciam. Mas há um problema, você não esteve nelas, não está e nunca estará, pois eu transformei você nisso e sinto nojo do que nos tornamos uma sem a outra.

Calculando letras movidas pelo acaso.

Todas as vezes que ela abria a boca para dirigir as palavras a mim, doía e tanto doía que eu não conseguia deixar de demonstrar. Seus lábios contorciam-se, sua mente calculava as letras, sílabas formando palavras virgens esperando um pouco de minha dor como recompensa. Escarrava palavras contra mim. Mas eu lutava, para que ela notasse que esse amor não existia e nunca existiu. Talvez um dia chegasse a existir, mas não duraria, seria apenas conseqüência de uma noite feliz ao lado de alguém que poderia ser ela. Mas não é.
Doía nela, a fazia chorar, fazia com que ela gritasse em silêncio, chorasse um mar seco e desistisse de viver. Mas eu não desistiria dela.

Sonhador e poeta.

Sonhador que está a observar,
Contando as belezas a se aproximar,
No fundo poeta,
Que não sabe rimar,
Cospe as palavras sem amor em um papel
Não faz dele, amigo ou companheiro
Fiel.
E acredita um dia em se apaixonar
Ama em segredo, a beleza natural
Sem maquiagem ou outra forma de esconder
Que torne uma beleza poética
Em algo tão vulgar, tão banal.
Faz de mim sonhador, poeta, amor.
E sonhe comigo ao se tornar tal
Cresço num mundo julgado
No poeta maltratado
Taxado maluco e desigual.
Cuida de mim em teus braços macios
E, promete viver a sonhar.
D’um sonho me fiz poeta,
Caminhando em sua rua deserta
Que me confessava em segredo onde tu devias estar.
Fiz-me sonhador d’um poema
No qual me fez acordar
Levantei meus olhos para o mundo
E o que tu me destes, pude lhe dar.

Um poeta que julga que chama
E que ama.
Afunda no oceano multicolorido de tua visão
Suave teu corpo, vestido ou despido,
De ti a me aproximar.
Fiz-me poeta para narrar tua beleza
Descrever teu encanto de forma cruel
Nega-me o amor, atormenta minh’ alma
Eleva-me ao céu.
Nunca me fizera poeta guardando segredo
D’um amor tão fiel.
Que guia o olfato, inveja as rosas
E faz da abelha, um ser qualquer.

O que é o amor?

No pouco
Solto, imposto
Que se faz
E trás, mas, se põe
A doer.
O grandioso, poderoso
Gracioso
Que chamou-se um dia,
Amor.
Banalizado, não experimentado
E tão sonhado
Que o tal de tão esperado
Se auto-formulou.
Numa linguagem
Pobre, de dor e desordem
Ele se fez,
Uma vez, outra vez, pra vocês
Alegaram sentir, tão dentro de si
E se enganar,
Sofrendo e sonhando
Aguardando, esperando
Um dia
Amar.

A química, física e biologia se entregam e deixam que nasça das cinzas espalhadas de um coração doente, um amor, da mesma forma que faz a nascente.

 

Confusa e impiedosa.

Seus sentimentos sempre guardados dentro de uma garrafa meio vazia de vinho, suas confissões dançavam sobre o frio flutuante em suas noites vazias e incompletas de insônia – Mal sabia ela que lá, do outro lado do país, havia alguém que estaria em sonhos fazendo-se dela, vivendo para ela, amando a ela – Passava toda sua noite ali, sentada com aquele moletom listrado, aquelas meias trocadas, aquela expressão indefinida, enganando a todos, menos a ela.
Algumas noites se fazia fraca e pensava na outra que lhe tomava em braços, sentia os batimentos fracos de seu coração e a entonação rouca de sua voz. Apagava rapidamente a imagem da mente com a sua mulher: linda, madura e como ele, o homem que esta tanto ama. Ela não sabia nada sobre si mesma, tão confusa e impiedosa, dividia informações desnecessárias com a melhor amiga – que a amava em silêncio –, contando coisa sobre si mesma, que nunca em sua consciência passaria o fato d’ela já saber e já admirar.
O que levaria ela a não dizer o que sente, a não confessar os medos que corroem seu coração? O que a levaria a quase desistir de tudo todas as noites? Ela tinha medo – menina sabia, mas sem dizer, ouvia -, tinha medo de tudo, d’ela não estar mais loucamente apaixonada, dela não gostar do que esta realmente é, dela não querer mais saber e sem cura, desistir como esta mesma estava a fazer. Mas ela prometera que não aconteceria. Não haveria castigo mais cruel em sua vida, que superasse o drama de saber que há algo, mas não saber o que é ou como ajudar e como proteger. Queria ela protegê-la, ter em mente um apoio de que ela está em segurança. E contando o que lhe afeta, seria fácil para ela, (sobre)viver, com a dor, o cansaço e a confusão de sempre.
– No final, eu sempre vou te amar, e fazendo isso, voltaremos para o início.

Pensamentos de uma mente abatida.

Debruçada sobre a porta de entrada de nosso antigo lar eu estou caída. A espera de um socorro, de um pedido de desculpas, de um sorriso alegre dizendo que voltou para mim, de uma garrafa molhada pela chuva onde guarda mil confissões que nunca seria capaz de dizer ou talvez entre derrubando os móveis e gritando comigo, pedindo para que eu, por favor, pare de ligar, pare de procurar, pare de deixar rosas em sua maçaneta, pare de viver para você. Estarei ali parada para quando você voltar. Sinto seu cheiro, sinto o perfume escorrendo e a chuva trazendo-o até a minha calçada, sinto a presença e sinto o aviso de quem nunca vem. O café esfria, a noite vai embora, a manhã chega e você não se rendeu. Mas eu ainda estou ali, caída, molhada, suada, suja e bêbada. Com aquelas bebidas que você bebera e eu observava-a beber, negando para evitar dores desnecessárias. Cuidando de você, até voltar a estar lúcida e não mais me amar, não mais cuidar de mim e não mais me proteger.
Estou a sua espera, caída sobre a porta de entrada, chorando – e às vezes com lágrimas evitando a visão – e perdendo-me cada vez mais do que fui um dia. Alucinações vêm o tempo inteiro, mas você nunca vem. Você nunca chega por aquela porta e seca minha roupa na tentativa de evitar um resfriado já possuído, nunca observa a bebida e pergunta desde quando comecei a beber, decide me limpar e cuidar de mim, até que eu fique bem de novo. Você nunca vem e eu nunca a procuro. Somos nós tão egoístas assim? Cuidar é tão difícil? Amar é tão desnecessário?
Estou a lhe esperar ainda, quase a morrer, esperando alguém a bater naquela porta, três batidas fracas e um sussurro rouco: “Você está em casa?”. Estou a esperar a nossa salvação, esperar que sinta falta deste amor.
Enquanto isso, enquanto espero debruçada naquela porta de entrada do nosso antigo lar, sinto como se mil facadas fossem depositada em meu corpo a cada dia, e espero que você sinta falta e relembre o que fomos um dia, protejamo-nos uma da outra e vivamo-nos juntas. Inalando dramas, depositando faíscas de poesia e fabricando amor – separando igualmente uma para a outra.

Tragicamente poético.

Lá estava ele, o poeta, deixado caído sob a escrivaninha velha de madeira escura, seus olhos pouco abertos e nada de lucidez. Em sua mão esquerda havia uma garrafa quase vazia de uma daquelas bebidas com nomes estranhos que ele tanto usava para roubar sua dor. Era a melhor forma de ele esquecer tudo o que dói, quanto dói e que ainda dói. Levava devagar até os lábios molhados e tossia, seu estômago embrulhava e ele cuspia. Algumas anotações, alguns rabiscos e uma carta. Em letra maiúscula havia: “Jane”. Ele não havia aberto ainda. Sua visão fraca fitou o pedaço de papel.
– Pare de me enviar cartas, você não entende. Sou egoísta, estúpido e apaixonado. Mas não quero este amor. Não suporto sentir este amor que eu respiro por você e que morro a cada dia por ele. – soluçou.
Havia algo além de todo aquele ódio embebedado de amor dentro dele. Havia algo em seu inconsciente, algo em sua dor que tocava seus leitores, algo que ele não definia. Indefinível, isto seria a palavra mais correta para aquele momento.
Ao lado da carta, havia um quadro, um sorriso torto e os olhos mais hipnotizantes do mundo. De seu mundo. Era Jane. Ele estava a fitar o quadro quando o telefone-celular vibrou no bolso de seu casaco. Olhou o número e não conseguiu ler. Observou devagar pela janela do escritório: chovia. A chuva embaçava a janela e podia-se ver ao alto o céu esbranquiçado e a lua refletindo em seu rosto. Parou de vibrar e ele ignorou o telefonema.
Três batidas leves na porta e o silêncio interrompido por uma linda voz, como canto dos pássaros, como o barulho da chuva que caía e batia contra o chão. A voz ecoou em sua mente, ele correu os olhos pelo quarto, mas seus lábios não se moviam, sua língua paralisara-se e ele não tinha forças. Sabia que logo desmaiaria e a voz ainda ecoava. Sentiu o último amargo da bebida nos lábios misturando-se com o drama que havia em qualquer som emitido ali, sentiu o cheiro da chuva atravessando os lábios, o cheiro de Jane, o cheiro da carta, o cheiro da noite e o cheiro da Lua borbulhavam descendo por sua garganta. Um ruído saltou de sua voz e não se ouvia mais o poeta. Não havia amor, ódio ou dramas ou poemas. Não havia ninguém além da pequena Jane ajoelhada beijando os lábios do poeta e misturando o amargo da bebida com o dos remédios que ele tomara sem medir a dose. Jane juntou os restos que ainda havia de seu amor e guardou junto do poeta, enquanto deitada com a cabeça em seu peito, sentia o coração não mais bater.

(In)tolerância.

Da janela de meu apartamento, eu observava o mundo lá fora. As pessoas corriam apressadas, deixando passar talvez um grande amor. Os jovens seguiam um modismo que roubava de suas mentes toda a identidade que neles restava. Da janela de meu apartamento, observava pessoas iguais, com apenas dois ou três traços que os diferencie. Observava os revoltosos agindo de forma imprudente e sendo levados a caminho da prisão. Havia guerra, desordem e feridos. Havia morte e cheiro de morte e barulho de morte. Havia caos e dor, lágrimas e desesperanças. Onde eles queriam chegar? Quem eram os vilões? Da janela de meu apartamento eu não passava. As pessoas lá fora, não notavam minha presença eu apenas os observava, eu poderia ler suas mentes aproximando-se numa rotina tão monótona. Via homens com uma mulher diferente a cada noite e ouvia gritos e sirenes. O jornal era entregue, mas eu não descia para buscar. A noite chegava e meus pés se cansavam de ficar ali, parado, na janela de meu apartamento. O telefone não tocava e se tocava, fingia não estar. A secretária eletrônica registrava a voz quase desistente de Jane que lutava agora, não desistindo de mim. Eu havia desistido dela e desistindo dela, desisti de mim.